FOLHAS MORTAS

Folhas de dezembro

Secas, tortas

Anacrônico destino

De pistilos e caules

Caules envergados

Envergonhados

Num tempo esmigalhado

De cisão

Folhas de dezembro

De nervuras evidentes

Sem qualquer inseto

Folhas amarelas outonais

Em pleno dezembro

Memórias flutuam

Como flutua no ar

Um suspiro ressecado

Um beijo à sombra

Uma folha que atraída

Ao solo das recordações

São incomodas paisagens

Mês das cigarras e paragens

À beira dos engramas

Sou essa , a desprendida

Dos galhos e raízes

Uma folha sem avanços

De recuos às profundas

Imagens do inconsciente

Vivo para contar

E lembrar a paisagem

Mítica e árida

Das sementes

Nas folhas que caem

Um assombro , uma paina

Gineceu que se apaga

Água que evapora

Pelos veios das ramagens

Dezembro reconheço

Pela melancolia das nuvens

Pelos meus olhos que transbordam