"A Chuva e o Silêncio"

A chuva cai,

não como um ruído, mas como um sussurro,

um segredo que se desvela nas pedras do caminho.

Ela não pergunta, apenas chega,

tocando a terra com a suavidade de um abraço perdido,

como se soubesse o que palavras não podem dizer.

Cada gota é uma memória que se desfaz,

uma dor que se dissolve no horizonte cinza,

uma promessa de renovação nas ruas desertas.

O céu, coberto de nuvens, não se importa com os olhares,

não teme as perguntas sem resposta,

simplesmente se derrama,

libertando-se do peso de tudo o que carrega.

E nós, que estamos aqui,

olhamos as janelas como quem observa a vida passar,

sabendo que a chuva não pede licença para entrar,

mas nos convida a respirar mais fundo.

Ela tem o poder de silenciar,

de transformar o caos em um ritmo suave,

como se nos lembrasse que, até na tempestade,

há algo de sereno.

Os passos na rua se tornam ecos tênues,

os rostos se escondem nas sombras do pátio,

mas, em algum lugar, entre as gotas,

o coração encontra a coragem para recomeçar.

A chuva é um espelho sem fim,

que reflete as lágrimas que não caíram,

os amores que não se foram,

os sonhos que se perderam na poeira do tempo.

E quando ela vai embora,

deixa o cheiro da terra molhada,

um vestígio de algo imortal,

como se o mundo tivesse se purificado

apenas por ter sido tocado pela água.

A chuva não explica,

ela apenas acontece,

e em sua dança silenciosa,

faz de nós, humanos,

um pouco mais leves,

um pouco mais inteiros.

Autor: Esmael António Sorte Kaindo