Meu aniversário
Chega sem alarde, sem pressa, sem cor,
Um dia qualquer que já foi especial.
Traz consigo o peso do que ficou,
O sabor agridoce do que é ritual.
Velas que dançam só na memória,
Um bolo que nunca foi comprado.
A casa vazia reconta a história
De risos perdidos num tempo passado.
Ainda me lembro: as mãos estendidas,
Os olhos brilhando, o som que enchia.
Hoje, o silêncio refaz as medidas,
E a festa é só minha, mas já não é dia.
Dez de dezembro. O que ele me dá?
Um tempo sem nome, um chão sem calor.
Mas há na ausência algo que há,
Um resquício tímido de algum fervor.
E mesmo que o bolo não seja cortado,
Que ninguém me veja soprar a chama,
A data insiste, no peito guardado,
A lembrar que o tempo nunca desarma.
Dez de dezembro, meu velho espelho,
Que reflete um rosto em eterna transição.
O passado me olha com seu conselho:
Viver é soprar, ainda que em vão.