Meu aniversário

Chega sem alarde, sem pressa, sem cor,

Um dia qualquer que já foi especial.

Traz consigo o peso do que ficou,

O sabor agridoce do que é ritual.

Velas que dançam só na memória,

Um bolo que nunca foi comprado.

A casa vazia reconta a história

De risos perdidos num tempo passado.

Ainda me lembro: as mãos estendidas,

Os olhos brilhando, o som que enchia.

Hoje, o silêncio refaz as medidas,

E a festa é só minha, mas já não é dia.

Dez de dezembro. O que ele me dá?

Um tempo sem nome, um chão sem calor.

Mas há na ausência algo que há,

Um resquício tímido de algum fervor.

E mesmo que o bolo não seja cortado,

Que ninguém me veja soprar a chama,

A data insiste, no peito guardado,

A lembrar que o tempo nunca desarma.

Dez de dezembro, meu velho espelho,

Que reflete um rosto em eterna transição.

O passado me olha com seu conselho:

Viver é soprar, ainda que em vão.

Yasmin R Fernandes
Enviado por Yasmin R Fernandes em 04/12/2024
Código do texto: T8211446
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