MAXIMULHER 



Eu costumo ser tempestuosa.
Entro pelas frestas da vida e das pessoas
Como repentina ventania, como incidental traquinagem,
E deixo a marca da minha passagem
No cotidiano desarrumado e em suas cenas.
Meus cabelos roçam  como paina
Os rostos que encontro pelo caminho.

"Quem passou?"

ElaEu,
A maximulher desestruturante!

Grita, reclama, faz discursos inflamados,
Conclama a guerra para que haja a paz.
Chora, pisa firme, explica,
Arranca palavras dos mansos e mudos,
Dança a dança dos apaches, toca tambores,
Agita os quietos e surdos.
Abre o peito para saraivadas de balas,
Descobre o rosto para tapas,
Desnuda-se para críticas e olhares estranhos.

"Mas, quem passou?"

EuEla,
A maximulher inconveniente!

Aquela de fala seca e que faz sangrar.
Aquela de dedo em riste e que cutuca feridas.
Aquela de olhar direto e que intimida.
Aquela de promissória na mão e que cobra.

"Quem era a que passou?"

EuEla e ElaEu,
A maximulher arteira e guerreira!

A fera bela.
De dengos e de duelos.
A amazona de crinas ao vento.
Não veio para brincar,
Veio para transformar.
Pés descalços, dedos-garras,
Sem escudo
Sem uniforme
Sem corporação.

"Quem mais?"

EuEu,
A maximulher doce e enamorada!

Aquela que sabe ser gueixa,
Que se desdobra em carinhos e afetos,
Em mimos e caprichos,
A moça frágil de olhar profundo,
A companheira presente
Que incentiva riso e consola lágrimas,
A que seduz pela palavra, a poeta,
A amante acesa e cheia de mistérios,
A cortesã, maciez na pele, voz e cabelos
Enfeitiçando o homem namorado...

"Mas, quem é essa, afinal?"

ElaEu e EuEla
A maximulher inconformada!

Aquela que não sabe pra onde vai mas vai.
Aquela que no descanso entre batalhas,
Sopra dentes-de-leão, deita-se na relva  orvalhada,
E sonha com uma Pátria verdadeiramente Amada ! 




024.gifimagem: da Internet, editada por KML

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 17/01/2008
Reeditado em 13/02/2010
Código do texto: T820962
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