O MOSQUITO

A flora do teu seio,

Branco como neve tropical,

Desponta em corolas cintilantes,

Na primavera eterna dessa terra,

De dias de sol pacato

De noites mornas, de horas lentas

E madrugadas secretas.

Do seio à boca o intervalo

Perfumado de teus ossos jovens.

A clavícula elegante, ombros agudos,

O longo pescoço, venoso ciano,

Selo da nobreza que, quiçá, carregas

Diluída nas veias, ao mesmo tempo

Jactanciosas e marginais.

Pouso abaixo de teus olhos,

No suor doce que, ao derreter o rímel,

Acentua tuas olheiras românticas,

Góticas, enormes se comparadas a mim,

Onde me disfarço para bem poder provar

O teu gosto de princesa, plebéia, amazona, santa católica e feiticeira.

Morro em minutos mas não morro em vão

Levo comigo, na reles memória de inseto,

O encanto de ter provado tanto em tão pouca existência.

Dos tantos sangues que já provei,

O teu foi o da melhor safra.

Antes morrer repelido por teus dedos

A ser corroído pelo estômago de uma rã.