O absurdo dos absurdos

 

O absurdo me escorreu pelos dedos

Como se fosse água quadrada.

Aprisionei-o com uma rede de vento

Mas escapou em gritos de borboletas.

O absurdo é uma lesma que voa

Uma pedra que mastiga chuva.

É um fio de arame farpado

Tecendo um casulo para as estrelas.

Certa vez, plantei uma ideia descalça

Num campo de relógios espatifados.

Colhi dela, um fruto inútil

Tão inútil quanto a sombra do tempo.

No absurdo, as árvores desraízam-se

Crescem de folhas para baixo e os peixes

Com seus voos silentes, deságuam

Em céu de chuvas salgadas.

Absurdo é o pé que calça a nuvem

O cachorro molhado pelo poste.

É a asa que amarra o voo da palavra

É quando o nada se veste de tudo. Bicho

Que dorme dentro do poema e só acorda

Quando nada faz sentido.

 

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 23/11/2024
Código do texto: T8203817
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