O absurdo dos absurdos
O absurdo me escorreu pelos dedos
Como se fosse água quadrada.
Aprisionei-o com uma rede de vento
Mas escapou em gritos de borboletas.
O absurdo é uma lesma que voa
Uma pedra que mastiga chuva.
É um fio de arame farpado
Tecendo um casulo para as estrelas.
Certa vez, plantei uma ideia descalça
Num campo de relógios espatifados.
Colhi dela, um fruto inútil
Tão inútil quanto a sombra do tempo.
No absurdo, as árvores desraízam-se
Crescem de folhas para baixo e os peixes
Com seus voos silentes, deságuam
Em céu de chuvas salgadas.
Absurdo é o pé que calça a nuvem
O cachorro molhado pelo poste.
É a asa que amarra o voo da palavra
É quando o nada se veste de tudo. Bicho
Que dorme dentro do poema e só acorda
Quando nada faz sentido.