MILONGA

Confraria das solitárias

Tablado à meia- luz

Afina-se o violino

O Plata reluz sob a Lua

Ruídos de Angola

Enroscam- se indolentes

Aos mares d’ Espanha :

Zarzuela,, Guajira, Andaluzia

Puerto de Palos, Buenos Aires

Filigranas mouras nos brincos

Decotes e recortes

em vestes adamascadas

Vinho rascante

Corta garganta

Meus olhos tristes

Preferiam um tango

À meia- idade

No reino melódico

das memórias

Um regalo:

tornozelos cruzam- se

Deslizam pés pelo salão

Entre risos e olhares fortuitos .

Pétalas de rosas vermelhas

Atiradas ao chão

Retiram-me um sorriso

Ressoam ritmos íntimos

Bandoneon insiste

Pensamento ressona

E sonha com o luzir

de um par de olhos negros

***

Essa noite Gardel voltará:

Para não dizer

que não falei de tango .

Marcia Tigani