Inimaginável
O inimaginável escorre pelos beirais do não-dito.
É quando o olho aprende a colher as cores do silêncio.
Tem asas de cobra e conta o que nunca existiu:
Uma semente que plantou um rio em pleno deserto.
O inimaginável brota do verso entortado,
Onde as palavras se despem do sentido
E dançam molhadas de vento, como se fossem
Passarinhos bêbados na madrugada.
É um caramujo que carrega o tempo nas costas
E deixa rastros de eternidade na areia do agora.
É o riso do mato que gargalha sem motivo
E transforma um graveto em máquina que voa.
O inimaginável mora no subúrbio do avesso,
Onde o chão tem saudades de ser céu.
Lá, os peixes constroem ninhos nos galhos das nuvens
E o silêncio assobia uma poesia de cordel.
Porque no inimaginável,
Até as sombras inventam luzes para nascer
E o mundo incrédulo aprende a desmorrer
Em cada curva alada do impossível.