TONS ESCUROS
Ela pediu: Reproduza minha pintura em tons mais escuros.
Sim. Pois não.
[Obedeci.]
Sem gosto de leveza, mostrei meu poema,
Sem luz, sem óticas,
Apenas o que via.
Poderia ser o que não sou?, ela me perguntou.
Respondi com um gesto,
Um sim com a cabeça.
Em tons frios e escuros,
Fiz a imagem perfeita daquilo que ela não é.
E mesmo assim,
Continua sendo,
Cada vez mais...
Cada vez mais escura.
Pedi que tirasse a roupa.
Expliquei:
Sua pintura fixará melhor sem elas.
Ela tirou.
Sorri.
Como podes ser tão ingênua com uma imagem tão cruel?
pensei.
Médici,
Se não tens um pingo de amor,
Por que me deixas tão louca assim?