S.O.S. - Água com açúcar
Estava sentada em silêncio, imersa em pensamentos,
quando de repente ouvi um som ecoando
pela quietude à minha volta –
um chilrear delicado que fazia lembrar o de um pássaro.
No início, tive dificuldade em identificar de onde vinha.
Por mais que perscrutasse, a fonte permaneceu indefinida.
Com o passar do tempo,
o chilrear tornou-se mais persistente,
evoluindo para uma melodia angustiante
que me apertou o coração,
como se a pobre criatura gritasse por socorro.
Então, ocorreu-me uma constatação surpreendente:
o som vinha de dentro de mim.
Não era um pássaro em perigo; era o meu próprio coração,
expressando o seu desconforto a um ritmo frenético.
Uma onda de preocupação apoderou-se de mim
quando confrontei a verdade perturbadora:
estava a passar por uma arritmia grave
que deixou o meu coração desorientado e confuso.
Desesperada por acalmar a turbulência interna,
fechei os olhos e voltei o meu foco para dentro,
tentando conectar-me com o meu coração perturbado.
Respirei várias vezes para me acalmar,
visualizando uma sensação de paz
a envolver o meu batimento cardíaco,
mas, apesar dos meus esforços,
nada parecia aliviar a sua inquietação.
Surgiu uma sensação avassaladora de preocupação,
acompanhada pelo medo de que tudo isto
pudesse acabar de forma trágica
se eu não agisse rapidamente.
Num momento de inspiração,
lembrei-me de um remédio antigo: água com açúcar.
Com um misto de ceticismo e esperança,
preparei uma pequena chávena,
perguntando-me se traria o alívio que procurava.
Para minha surpresa, enquanto bebia o líquido doce,
uma onda quente de calma apoderou-se de mim,
como se um bálsamo suave
tivesse sido aplicado no meu coração agitado.
Compreendo a cautela em torno do consumo de açúcar,
mas também percebo que a vida é uma questão de equilíbrio.
Afinal,
quem não gosta de algo doce de vez em quando?
A doçura serve de deleite para a alma,
é como uma carícia suave,
uma presença tranquilizadora que nos conforta
nos momentos de angústia.
Gradualmente, senti o meu coração começar a acalmar,
as suas batidas frenéticas
estabelecendo-se num padrão mais rítmico.
Com esta nova clareza,
reconheci que a inquietação que se agitava dentro de mim
reflectia as questões maiores que afectavam a todos nós:
ansiedade, stress e os inúmeros desafios
que assolam o mundo que nos rodeia.
Se nos pudéssemos mimar um pouco mais,
tanto física como emocionalmente,
talvez pudéssemos cultivar uma existência mais feliz
e harmoniosa.
Cada pequeno ato de auto-cuidado
pode criar ondas de positividade nas nossas comunidades,
contribuindo, em última análise, para um mundo melhor!
©️Maria D Reis
01/11/24
Portugal