Almas descrentes

 

 

 

O poema era esquisito, com a tinta da paixão escrito... e contava de um amor louco, desenfreado, de lágrimas derramadas, e silêncio no escuro do quarto, guardado. De esperar, já cansado, restando como alento somente através da janela, a visão, que vez por outra lhe lembrava e chamava... _ Vem vale a pena ainda, a vida é bela! Não se deixe consumir pelo tempo. E ela dizia que não, cada letra do poema por uma imensa saudade, foi trocada. Tudo lhe fazia infeliz, até as suas fantasias se perderam... todas se foram, sem deixar um lenço para que acenasse, sem um sorriso a lhe devolver, a aflição que virou calmaria, o amor morreu antes de nascer, e se foi sem alegria.


Era um poema sem vontade, sem forças para ir mais longe, fragilizado, só sentia dor. Dentro da casa antes alegre, agora desabitada, o silêncio pelo eco dos ventos, quebrado. Cantava o desamor na surdez de frases que não foram ditas, vencido pelo orgulho, o coração já não reconhecia o significado da palavra amor. Poemas assim, desses que descrevem portas que permanecerão fechadas. E almas desesperadas, e descrentes, que vivem de lembranças, por vozes assombradas, chamando para um mundo inexistente. Almas que escrevem poemas sem nexo, entregues ao léu, como dizer que o amor é um presente?

 

Poemas assim... tímidos, esquecidos num canto, sem compreensão, jamais ousados, de sonhos que se perdem na escuridão, feito as mulheres tristes sem liberdade, sem querer escondem-se por detrás dos seus negros véus, de olhos chorosos e envergonhados, que vão definhando feito flores caídas, sem vida, pelo chão.

 

Liduina do Nascimento

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Enviado por Liduina do Nascimento em 18/11/2024
Código do texto: T8199432
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