Mosaico
Buscando significado e propósito, ao meu caminhar,
enfrento sombras e paredes invisíveis.
Quero me descobrir.
De um baú imaginário, retiro velhos fragmentos:
espelho trincado, chave quebrada,
inúmeras figuras recortadas,
peças de um enigma.
Cada fragmento traz perguntas,
busco em cada peça, respostas, algum sentido.
Quero montar o quebra-cabeças da vida;
nas peças que retiro, passado, presente e futuro
se entrelaçam,
Um círculo, sem começo ou fim.
Uma a uma, vou retirando peças, e
espalhando-as sobre a mesa, sem encaixe algum.
Não sei que figura formará.
Não tenho o modelo para copiar.
A procura pela próxima peça me angustia.
Sinto que, mais uma vez o pedaço escolhido
não completa o vazio.
Retiro outras.
Tenho medo das minhas escolhas.
Retiro peças desbotadas pelo tempo,
frágeis ao toque,
que com dificuldade se encaixam.
Na figura que se delineia, há espaços vazios que memórias não completam.
São momentos do presente, do hoje, do agora.
E, mesmo diante dessas peças a preencher o presente, nada construo.
Retiro outras!
Peças frágeis, mutantes,
mudam de forma em minhas mãos.
Busco o encaixe, mas elas se transformam,
é o futuro, que como um rio, flui sem forma.
Passado, presente e futuro,
peças às minhas mãos,
espalham-se na mesa.
Como representar a vida numa figura estanque,
como um quebra-cabeças,
quando ela é vento e mar?
A cada peça uma nova perspectiva;
num palco de incertezas e escolhas inevitáveis.
Cada escolha a questionar
a que veio antes.
Diante de tantas peças, uma certeza:
a vida não cabe num único encaixe,
num quebra-cabeças.
Melhor formar um mosaico,
sem uma lógica rígida;
cada peça única e fragmentada,
a ocupar diferentes lugares.
E juntas, formam o todo imperfeito
que sou eu!