O Poeta e o Abismo

Escreve o poeta, alma em flor,

Com palavras que cintilam como estrelas,

Versos que encantam, cantam a dor,

E transformam o mundo em centelhas.

Mas por trás da rima que o povo abraça,

Há um vazio que o eco esconde,

Sua pena, que em ouro traça,

Não compra o pão que ele não pode.

Nos aplausos, o instante de glória,

No silêncio, o peso da miséria.

O poeta que canta a história,

Luta contra a fome que é sua matéria.

Desespera-se em noites tão frias,

Onde o belo não aquece o corpo,

E o brilho das linhas vazias

É o retrato de um esforço morto.

Ah, quem dera a poesia pagasse

O teto, o prato, a dignidade!

Mas a arte que o mundo abraça

Deixa o artista à margem da cidade.

E assim, o poeta escreve e sangra,

Cativo de seu próprio encanto,

Enquanto o mundo aplaude e dança,

Ele grita, num verso, seu pranto.

Arthur Marchesini
Enviado por Arthur Marchesini em 17/11/2024
Código do texto: T8198951
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