O Poeta e o Abismo
Escreve o poeta, alma em flor,
Com palavras que cintilam como estrelas,
Versos que encantam, cantam a dor,
E transformam o mundo em centelhas.
Mas por trás da rima que o povo abraça,
Há um vazio que o eco esconde,
Sua pena, que em ouro traça,
Não compra o pão que ele não pode.
Nos aplausos, o instante de glória,
No silêncio, o peso da miséria.
O poeta que canta a história,
Luta contra a fome que é sua matéria.
Desespera-se em noites tão frias,
Onde o belo não aquece o corpo,
E o brilho das linhas vazias
É o retrato de um esforço morto.
Ah, quem dera a poesia pagasse
O teto, o prato, a dignidade!
Mas a arte que o mundo abraça
Deixa o artista à margem da cidade.
E assim, o poeta escreve e sangra,
Cativo de seu próprio encanto,
Enquanto o mundo aplaude e dança,
Ele grita, num verso, seu pranto.