FUI INCAPAZ DE NOMEAR ESSE POEMA.
Era apenas poeira
A fina linha que, diante dos meus olhos,
Me fez crer que o horizonte estava perto.
Foi apenas uma brincadeira
A promessa de que uma forte chuva fria
Haveria de cair no deserto.
Uma mentira faceira
Sorridente e bem vestida, cheia de flores
A espera do momento certo.
Então não houve hoje
O ontem luta bravamente contra a meia noite
Para que a vida toda seja apenas um dia.
Justamente o dia da dracma perdida
Do nascimento da ferida
Do rebento débil que não se cria
Para que a vida toda seja apenas percebida
Pela agonia abafada dos que dormem
Na quase morte da vida não vivida.
Era apenas fumaça
A nuvem branca que me alimentou a ideia
De que o céu ainda poderia ser azul.
As crianças e os pombos na praça
Cegos em sua pureza e absoluta tolice
Não se vêem entre a coral e a urutu
Talvez fosse coisa da minha raça
De olhos turvos pela dor que nos habita
Ao norte, a cabeça, e o coração ao sul.