Lá vem a chuva
Lá vem a chuva
querendo molhar
meus olhos atentos,
meu chão violento
marcado de luz.
À chuva e ao vento,
e ao impassível socorro
recorro lento.
Lá vem a chuva,
passado remoto,
dominando o rótulo
do santo elemento.
A chuva é meu resto,
minha voz, meu lamento
do fundo da alma
que um dia serei.
Lá vem a chuva
de asas paradas.
Parado é meu tempo
que busca um tormento
pra vida andar.
Meu deus, tu que és chuva,
molhai meus sentimentos,
que eu não posso regar.
E lá se foi a chuva.
Molhou e se foi
e o seco voltou.
E aqui, pouco tempo,
não dá pra molhar.
Mas, que venha mais chuva,
molhando e secando,
pois nessa alternância
se dá a vida,
enquanto não pode ser plena.