Lá vem a chuva

Lá vem a chuva

querendo molhar

meus olhos atentos,

meu chão violento

marcado de luz.

À chuva e ao vento,

e ao impassível socorro

recorro lento.

Lá vem a chuva,

passado remoto,

dominando o rótulo

do santo elemento.

A chuva é meu resto,

minha voz, meu lamento

do fundo da alma

que um dia serei.

Lá vem a chuva

de asas paradas.

Parado é meu tempo

que busca um tormento

pra vida andar.

Meu deus, tu que és chuva,

molhai meus sentimentos,

que eu não posso regar.

E lá se foi a chuva.

Molhou e se foi

e o seco voltou.

E aqui, pouco tempo,

não dá pra molhar.

Mas, que venha mais chuva,

molhando e secando,

pois nessa alternância

se dá a vida,

enquanto não pode ser plena.

Thiago Sobral
Enviado por Thiago Sobral em 14/11/2024
Código do texto: T8196745
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