Não estou falando de jantar
Quando o jantar estava frio
Eu costumava reclamar com o garçom
esperava o prato quente, insistia
e quando não adiantava
chorava a frustração
Em noites assim
bati portas, elevei a voz
protestei até o fim do salão
deixando claro, para quem quisesse ouvir
o jantar, caro e frio, era uma afronta
Mas com o tempo, eu vi
não importava o quanto falasse
quanto gritasse
o jantar sempre voltava ainda mais frio
quase como gelo
Hoje, quando o jantar chega frio
levanto-me em silêncio, sem dar explicações
sem alarde, sem queixa
Atravesso a rua
sento em outro lugar e peço um café quente