A Beleza na Amargura de Augusto dos Anjos
Sempre releio os soturnos poemas
De um dos meus mestres literários,
Augusto dos Anjos, ícone da nossa literatura,
Que traduz de forma pujante o desencantamento,
A melancolia em relação ao cosmos.
Eu e minhas poesias se identificam com
A consciência em forma de morcego
Que sempre entra sorrateira em meu quarto.
Filho do carbono e operário das ruínas humanas,
Na poesia do paraibano, a vida é crua,
A dor é certa, a morte é nua, sem véus de conforto.
Mas há na escuridão uma verdade pura,
Que ensina a ver beleza na amargura.
Ler a poesia de Augusto é experiência singular,
Seus versos densos, vocabulário científico,
Desafiam o leitor a refletir sobre a morte,
A existência, a dor, a angústia, a ingratidão,
O acostumar com a lama que a todos espera.
Uma introspecção nas questões fundamentais,
Reflexões sobre o beijo que antecede
O escarro, a mão que apedreja.
Versos sobre carnes em decomposição, vermes,
Criam experiência sensorial intensa ao leitor.
Uma poesia carregada de pessimismo,
Que leva a refletir sobre os escombros
Do homem e o sentido de sua vida.