RAÍZES DO AMANHÃ
Há desarranjos em nossas mãos,
cidades que se expandem como sombras,
rios que murmuram o peso de um futuro
afogado no afã de nossos passos apressados.
As florestas, silenciosas,
gritam em segredo,
enquanto sua voz se dissolve no vento.
Mas e se, por um instante,
tivéssemos a coragem de ouvir?
E se a poesia não fosse apenas a palavra,
mas a raiz que se entrelaça com o solo,
alimentando um pacto de cuidado e renascimento,
onde cada verso fosse um gesto de amor à Terra?
Ser poeta é ser espelho da paisagem,
é reescrever o mundo com as mãos nuas,
plantar, na terra fértil da alma,
o princípio de um novo olhar,
onde a ferida não é fim, mas começo,
onde o cuidado se faz estrada,
e o cuidado, ainda que singelo,
reconstruímos a partir do afeto.
Ainda há tempo, há sempre tempo,
se nossa subjetividade não se tornar
mais um recurso a se esgotar.
Se semearmos em nossos corações
a leveza do passo que diz respeito ao chão,
a poesia será o fôlego renovador,
que nos ergue, sem pressa,
sob um horizonte que, ao longo,
se revelará possível...