Filosofia do Siso
Arrancaram-me o dente com pinça de ferro,
E um fio de dor foi puxado junto, esticando a memória.
O siso não era só dente, era pedaço de mim que sabia
Sobre o mundo – (agora, com boca oca, mastigo o quê?)
Disse o dentista que era necessário:
O siso já dava espaço para a solidão doer.
Mas, para mim, era só dente:
Uma raiz teimosa na boca, crescendo pra fora
Como pensamento torto, desviando das certezas.
E agora o que restou?
Uma cava, um buraco onde o dente morava.
Ali, onde a dor se escondia em dias de silêncio,
E o mastigar, das ideias, se encontrava morto.
Agora penso: cada dente é um poema enterrado,
Um verso que o tempo mastiga e arranca.
De tudo, ficou o vazio e o gosto anestesiado na boca,
Mas o que fazer? Seguir mordendo, mesmo que torto
Ou aprender que é assim que se cresce na vida.