Filosofia do Siso

Arrancaram-me o dente com pinça de ferro,

E um fio de dor foi puxado junto, esticando a memória.

O siso não era só dente, era pedaço de mim que sabia

Sobre o mundo – (agora, com boca oca, mastigo o quê?)

Disse o dentista que era necessário:

O siso já dava espaço para a solidão doer.

Mas, para mim, era só dente:

Uma raiz teimosa na boca, crescendo pra fora

Como pensamento torto, desviando das certezas.

E agora o que restou?

Uma cava, um buraco onde o dente morava.

Ali, onde a dor se escondia em dias de silêncio,

E o mastigar, das ideias, se encontrava morto.

Agora penso: cada dente é um poema enterrado,

Um verso que o tempo mastiga e arranca.

De tudo, ficou o vazio e o gosto anestesiado na boca,

Mas o que fazer? Seguir mordendo, mesmo que torto

Ou aprender que é assim que se cresce na vida.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 11/11/2024
Código do texto: T8194516
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