Canto à minha Forma
Atentai ao temeroso crescendo
Que a Natureza, enlutada, gemendo
Em procelas mil,
Concerta sofrendo!
Sofrendo a perda da Deusa senil…
Que, conformada, os tempos mudar viu,
Porque em nós mui crendo
Tranquila dormiu.
E em tal ausência da Mãe, entretanto,
Vós esqueceis de louvá-la em um canto
Diário e retumbante,
E perdeu-se o encanto!...
Seduziu-vos a Preguiça, pecante
E disforme, daquela fala errante:
“Usai o meu manto,
Que é garbo, elegante…”
Mas, com desleixo, o manto configura
Vossos versos, que não mais têm doçura.
Se então declamado,
O ouvinte tortura!
E é hoje louvado! E é hoje afamado!
Como outrora o culto, hoje detratado,
À formosa e pura
Que tenho exaltado!
Ouvis o estrondo gutural da Terra?
Ouvis o choro celeste que encerra?
Levantai da cama:
É clamor de guerra!
Atentai! Fazei da centelha chama!
E dos versos, manifesto que inflama!
Vencereis a treva
Pela Forma que ama!
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O poema compõe-se de quartetos, com dísticos decassílabos e dísticos redondilhos menores, que se encadeiam, de dois em dois, no conteúdo e na rima.