O Peso do Silêncio
Caminhou o homem por entre as vidas,
com mãos abertas, sempre a dar,
levando consolo, sem pedir guarida,
oferecendo luz, sem nada esperar.
E todos se iam, aliviados e leves,
como quem encontra refúgio no cais,
mas ele ficava, cada vez mais breve,
esquecido nas sombras dos seus próprios ais.
Um dia a tristeza bateu-lhe à porta,
soturna, pesada, sem cor ou som,
e o homem, que sempre soube confortar,
se viu sozinho, no mais profundo vão.
Nem um vulto veio, nem um gesto acenou,
as mãos que estendia caíram no chão,
e o homem, que tanto o mundo ajudou,
descobriu-se só, sozinho, sem ilusão.
Agora, no eco do vazio, ele chora,
não por ter dado, mas por não receber,
no silêncio que tudo devora,
é a solidão que o faz perecer.