Caminhando sob a Tempestade.
No meio da tempestade te chamei,
mas tua voz era o silêncio.
Caminhei entre homens como sombras,
meus passos afundavam em lama e relâmpagos,
e só o vento me respondia.
Onde estavam os olhos que prometeram enxergar-me?
As mãos que um dia se estenderam?
Agora, sou apenas este homem,
solitário entre rostos que se desmancham,
como areia levada pela fúria do mar.
E a chuva caiu sobre mim como uma sentença,
mas não me dobrava.
Meus pés, ainda que cansados,
seguiram o caminho traçado pelos trovões,
como quem busca o horizonte mesmo sabendo
que ele jamais virá.
Não houve abrigo, nem âncora.
O mundo seguiu cego, e eu segui mais só,
como uma folha lançada no rio da vida,
sem remédio, sem verso,
apenas o murmúrio das águas e a dor,
a doce dor de ser eu, sempre sozinho,
sob o céu enfurecido.