Sem (querer) saber
À noite acordado pela paixão
Segurei teu rosto e te beijei à revelia
Retribuiu sem ter como dizer não
A potência do desejo era pura energia
Pela manhã duvidei se tinha acontecido
Passei o dia tentando decifrar
Era fácil ter tudo esclarecido
Com a simplicidade de um “só perguntar”
Mas quem sou eu para matar uma esperança
Apesar do sonho requerer paternidade
Dó de destruir a crença na verossimilhança
O desejo de que tenha acontecido de verdade
Também qual o valor de uma dúvida morta?
A incerteza boa é o prato do dia
O que eu senti é o que importa
O resto é sobra e não merece poesia
A temática do comum até ladra
Quer roubar atenção, balança o rabinho
No máximo uma referência numa quadra
Mas o espetacular segue seu caminho
Porque do pouco já temos bastante
Migalhas até fazem pássaros pousar
Mas saiba que serão por instantes
Você sabe que deles, o céu é o lugar
Bem alto, onde nossos problemas são pequenos
Injustiças terão a importância de uma formiga
Lá o antídoto para todos os venenos
Lá toda força que a imaginação abriga
Lá realidade e sonho não tem hierarquia
Pois os sintomas são aos reais equiparados
O poder de viver qualquer fantasia
A satisfação de ter o amor sempre ao seu lado