CORAÇÃO EM FLOR
Minha vida tem folias que desafiam o gosto da seca,
o entender do riso, o sacolejar do perdão.
São ciscos de incertezas que vêm e vão,
quando bem quiser, quando bem assim merecer.
Neles refresco meus pesadelos,
destilo o brilho do olhar, penteio as rédeas do querer-bem.
Nessas folias matreiras e repentinas,
por vezes alvissareiras e até respingadas,
me vejo menino pulando poças d´água,
traquinando passos com o coração em flor.
Lembro de cada quilate, cada gemido da razão,
por vezes, choro até secar de vez. Como choro.
Daí desnudo as têmporas de cada andar enviezado,
cada alforria escorrida da minha solidão.
Então arranco fora as tampas roídas da dor,
o furor rasgado dos ventos, as costas puídas da fé.
E restituo cada pião fugido, cada verso desanuviado.
cada senão maltrapilho que ousar perpetuar,
além das lindas cantigas de ninar que guardei só pra nós
e ninguém mais.