Minhas lembranças de Maria
O que te direi, Maria,
da camisola branquinha
que costuraste com linha
e toda a graça que havia?
O que te direi, Maria,
dos teus ousados peitinhos
no sutiã em desalinho
que minha mão acharia?
O que te direi, Maria,
do teu púbis encoberto
de arruivado e descoberto
na minha impura ousadia?
O que te direi, Maria,
das sardas do teu rostinho
que eram flores no caminho
quando feliz eu te via?
O que te direi, Maria,
do cobre dos teus cabelos
que me arrepiava os pelos
de tanto que eu te queria?
O que te direi, Maria,
das florzinhas na grinalda,
do teu olhar esmeralda
que no escuro mais luzia?
O que te direi, Maria,
do teu colo o acalanto
que me adormecia santo,
como um santo me despia?
Quando um ato de magia
vem da saudade que eu tenho
e a tua imagem desenho,
o que te direi, Maria?
_______
Na ilustração, A Ruiva com Blusa Branca de Toulouse-Lautrec (França, 1864-1901).