Entranhas sertanejas

Nas quebradas do existir, vai o homem caminhando, estranho pra ele mesmo, bicho entranhado de si. No barro e poeira,

Deus se desdobra em pedaço, e o vento assopra mistério por entre o cerrado.

Tem uma fala que fica na dobra da gente, dentro de um canto do peito, é palavra sem som, um risco de rio que não sabe pra onde, porque o sertão não precisa de rumo ou razão.

Pensa o homem que se afasta de si, mas volta em laço, como bicho que fareja a toca, porque o caminho é cego e sabe mais que o andar, e as léguas que cortam a terra o devolvem ao chão.

Que a vida é assim, vão fio que estica e dobra, vereda entre o que se entende e o que falta entender.

E, no fim de tudo, é só ele e o silêncio, tão grande e miúdo como um grão de poeira.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 31/10/2024
Código do texto: T8186532
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