Hermenêutica da morte
I
Meia idade:
Cartilagens rangem
Canal da medula
Comprime o ciático
Por dentro o oco:
Nacos do existir
Poetas ainda escrevem
poemas de amor
II
Ar rarefeito ,dispnéia
Pede guelras e vento
Unguentos ,aspirinas
A idade recontada
Pelo tanto de drágeas
e escalda- pés
Tempo de gerânios
Na olaria celestial
III
Como se chama mesmo
Aquele espaço envidraçado
De onde se vê
Cataventos coloridos?
Alpendre? Água- furtada ?
Água-morta?
Um presságio ...
IV
Acende- se a girândola
Reza- se uma missa
( em sufrágio da alma de ...)
Dele, o semimorto
Dele, o semitonal
Ele, logo mineral
Cujo passamento
Resume-se a um epitáfio
V
Aqui jaz um poeta :
O homem oceânico
O homem pagão
Eco das angústias
Da paixão furta- cor
Homem pedra e faca
De cujo gume se faz verbo
Descansa sobre o tule
VI
Nunca em minha vida morri
Portanto não imagino
O momento aguaceiro
O momento póstumo
O último olhar para o teto
O passaredo em alarido
Ramalhetes de cravos vermelhos
Alguém chorando por mim
Marcia Tigani