Talvez amanhã
Talvez amanhã eu seja mais feliz
Talvez antes que de mim decline a mocidade
Talvez antes que me tomem os cabelos gris
Talvez eu não me demore no lamento
Talvez nele eu me ancore por alguns instantes
Talvez até findar a areia da ampulheta do tempo
Talvez eu sorria a um desconhecido um dia
Talvez meu sorriso amarelo me intimide
Talvez eu sorria com os olhos só por rebeldia
Talvez eu vá por desconhecidos caminhos
Talvez meus pés desafiem meus instintos
Talvez me fira o medo com pontiagudos espinhos
Talvez a vida seja sobre a certa partida
Talvez eu me vá logo cedo
Talvez, por acaso, eu perca a hora da ida
Talvez eu escancare, hoje, a minha janela
Talvez numa ínfima fresta more meu contentamento
Talvez eu anseie pedaços de luz com a ânsia de uma aquarela
Talvez ao amor amanhã seja tarde
Talvez eu só perceba isso amanhã
Talvez não seja um ou outro se em mim ainda arde
Talvez amanhã eu escreva um ou dois poemas
Talvez de amor, talvez dor, um soneto, não sei
Talvez nem haja papel que comporte nele o peso dos meus dilemas.