Gritos na noite

Pensei que ouvindo os seus gritos talvez esquecessem do meu

Ouvimos tantos gritos que vêm das ruas

Por que não querem ouvir o meu que vêm da alma?

Eu escuto os seus gritos abafados aos ouvidos alheios,

Doentios, aflitos, pedindo socorro

Vejo-os em suas faces tensas

Marcadas com vincos de dor

Eles engolem seus gritos em nome do medo de viver

Não querem que os outros enxerguem suas fragilidades humanas

Nesse mundo de aparências onde trancam suas frustrações

Achei que ouvindo os meus gritos

Eles acordassem e ouvissem os gritos de suas almas amarguradas

Para que pudessem entender que apesar da sua finitude, a vida não isenta ninguém de passar pelas adversidades

O grito vai além da coragem

Para além dos seres

Alto e imponente, atravessando vãos, paredes , vidas

Expressa nossas fragilidades e frustrações diante da imponderável força da vida que tira nossas certezas

A nossa ilusão do mundo perfeito

Ouçam seus gritos e esqueçam do meu

Agarrem-se em suas dores nos lugares inversos e reais

Onde provocam obsessão e loucura

Escuto agora os gritos de suas almas ressequidas

É uma dor latente, um buraco que se mistura com ódio, revolta e medo

A dor é tão difícil de superar que

Os impede de saírem dos seus sonhos tão lúgubres, sinuosos ofídios a esgueirarsem na putrefata lama do charco mental

O grito sufocado em seus peitos

Dimensiona a total aridez, lucidez e loucura

Falsos ideais que formam uma mistura de ritos incrivelmente alucinantes.

Carla Neumann
Enviado por Carla Neumann em 21/10/2024
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