Gritos na noite
Pensei que ouvindo os seus gritos talvez esquecessem do meu
Ouvimos tantos gritos que vêm das ruas
Por que não querem ouvir o meu que vêm da alma?
Eu escuto os seus gritos abafados aos ouvidos alheios,
Doentios, aflitos, pedindo socorro
Vejo-os em suas faces tensas
Marcadas com vincos de dor
Eles engolem seus gritos em nome do medo de viver
Não querem que os outros enxerguem suas fragilidades humanas
Nesse mundo de aparências onde trancam suas frustrações
Achei que ouvindo os meus gritos
Eles acordassem e ouvissem os gritos de suas almas amarguradas
Para que pudessem entender que apesar da sua finitude, a vida não isenta ninguém de passar pelas adversidades
O grito vai além da coragem
Para além dos seres
Alto e imponente, atravessando vãos, paredes , vidas
Expressa nossas fragilidades e frustrações diante da imponderável força da vida que tira nossas certezas
A nossa ilusão do mundo perfeito
Ouçam seus gritos e esqueçam do meu
Agarrem-se em suas dores nos lugares inversos e reais
Onde provocam obsessão e loucura
Escuto agora os gritos de suas almas ressequidas
É uma dor latente, um buraco que se mistura com ódio, revolta e medo
A dor é tão difícil de superar que
Os impede de saírem dos seus sonhos tão lúgubres, sinuosos ofídios a esgueirarsem na putrefata lama do charco mental
O grito sufocado em seus peitos
Dimensiona a total aridez, lucidez e loucura
Falsos ideais que formam uma mistura de ritos incrivelmente alucinantes.