CALE-SE

Perdi as rédeas, cavalguei.

Senti uma tristeza, chorei.

Tive saudades, parti.

Passei por apuros, gritei.

Fui roubado, reclamei.

Interrogaram-me, respondi.

Sonhei alto, voei.

Lutei, cansei… mas não

me desesperei, encontrei.

Tomei um porre, embriaguei-me.

Fui aos prantos, solucei.

Empurram-me, levantei.

Cobraram-me, paguei.

Jogaram sujo, blefei.

Colocaram o carteado, apostei.

Exigiram silêncio, gritei.

Clamaram direitos, neguei.

Pediram tempo, usurpei.

Pontuaram, eu exclamei.

Festejaram, dancei.

Pregaram pregos, rezei.

Calaram-me, retruquei.

Senti fome, esperei.

Deram-me água, não aceitei…

cuspi.

Alçaram velas, naveguei.

Chutaram o balde, eu vi.

Pisaram no pão, excomunguei.

Prolataram a sentença, contestei.

Reclusaram-me, sobrevivi.

Atiraram em mim, alvejei.

Repulsaram meu nome, apelidei-me.

Ergueram a taça, flagelei.

Gritaram hinos, louvei.

Tocaram harpas, meditei.

Fizeram-me sorrir… morri.

Silenciaram vozes, explodi.

Deixaram-me nu, como nasci,

revesti.

Consagraram nomes, desisti.

Deram títulos, os depreciei.

Votaram em branco, anulei.

Fizeram o gol, emudeci.

Torturam-me, adormeci.

Teve inspiração, não exaltei,

es-cre-vi.

Criaram jardins, flores colhi.

Vieram notícias… não assisti.

Fizeram guerras, posicionei-me.

Lançaram valores, investi.

Criaram o fake, pesquisei.

Enamoram-se, casei.

Abortaram, discriminei.

Pequei, perdão eu pedi.

Pariram, eu os criei.

Insistiram tanto, que desisti.

Ao final,, tive que beber no

cálice da exclusão.

Pediram escolas, presídios foram erguidos.

Juraram justiça, direito (a letra fria da lei)

prevaleceu.

Findaram o golpe, democratizei.

Levaram-me ao circo, palhaço tornei-me.

Pediram tréguas, léguas eu fiz.

Existiram pontos. Terminei.

E agora o que fazer?

Perguntaram-me, eu não sei.

O caso agora está no nosco,

porque o co, não se compromete.

Portanto, findemos e nos emos

faremos

melhor

que outrora não fora feito.

Libertemos.

Deixe a palavra bruta

ser lapidada,

para que dela nasça

com sucesso o mais

romântico do existir…

Poesia.

Nós ia.

Editada em 19.09.1996

Reeditada em 19.10.24

Eugênio Costa Mimoso.

Eugênio Costa Mimoso
Enviado por Eugênio Costa Mimoso em 20/10/2024
Código do texto: T8177805
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.