A VINGANÇA DO POETA
O poeta é um abestalhado
que sai doido pela noite
E volta pra casa de dia
Com o peito cheio de agonia
De não dizer o que queria
Porque o seu jeito é calado
Mesmo que antes disso
Tenha se perfumado
Passado um creme no cabelo
Tenha falado no espelho
E se enchido de esperança
Três frases de confiança
Pro seu humor levantar
Mas cabe ao poeta avaliar
Pra que tanto martírio
Em elaborar pensamento?
Pra que tanta firula
Se a boca não quer transmitir
O que o peito quer dizer?
Pra que tanto sofrer
Na construção da palavra
Que não encontra saída
Que não encontra valida
E faz a caneta doer?
É assim que nasce o revoltado
Que na ânsia de se vingar
Faz o seu peito sangrar
Com a violência de um malvado
Entorna a caneta com força
Na palidez da folha branca
E deixa a raiva escorrer
A dor que dói sem doer
Do peito em plena vingança