CANTO A TALIA.
O sorriso inebriante,
Não há com o que se comparar,
No mais alto monte,
Ao lado da cristalina fonte,
Impossível não se apaixonar,
Junto de Apolo desfilando Talia,
Bela musa transbordando alegria.
Vou subir ao Olimpo,
Ter de Talia a bela face,
Sua máscara ou qualquer sorriso,
É tudo de que eu preciso,
Poder me esconder em seu disfarce,
É tão forte tal sentimento,
Indo muito além do intendimento.
Em tuas mãos o ramo de Hera,
A máscara áurea de olhos tão belos,
Nos lábios o sorriso feiticeiro,
Alcancei o Olimpo como forasteiro,
Poeta astuto, fui um trapaceiro,
Agora estou privado da liberdade,
Me encontraram na gloriosa cidade.
Não sei no que me tornei,
No cárcere estou a meditar,
O coração ardendo no peito,
Me tornei um degenerado sem jeito,
Em teu castelo fui me aventurar,
Não quero ficar e fugir não consigo,
Amor que me cega é o que tanto persigo.
A vida é uma comédia,
O mundo um palco diante do céu,
Cada habitante um anônimo ator,
Na triste encenação de alegria e dor,
Ao jugo austero no banco do réu,
Eu e minhas tolas paixões,
Tão fraco em minhas decisões.
Afinal, o que desejas de mim?
Pequeno e insolente ser mortal,
Espiando o meu reino proibido,
É na verdade por demais atrevido,
Imprudente, excessivamente sentimental,
Revela-me o desejo do teu coração,
Qual é sua maléfica e real intenção?
Perdoe-me, ó musa, se pareço atrevido,
Reconheço a minha imprudência,
São ações de um tolo coração,
Peço-te, não o leve em consideração,
Perdoe minha ridícula insistência,
Não me faça teu eterno prisioneiro,
Misericórdia peço para esse forasteiro.
Os homens nada sabem,
São por demais previsíveis,
Buscando a própria vontade,
Sempre alimentando a maldade,
São egoístas e insensíveis,
Indignos do Olimpo certamente,
Buscando vãos favores cegamente.
Veja no que vossa arte se tornou,
Vossa comédia é um horror,
São falsos os vossos sorrisos,
Vossos caminhos sempre indecisos,
Vosso teatro é um palco de terror,
Talvez grades vos caia bem,
Merecedores de castigo no mundo além.
Agora cala-te homem mortal,
Chega de tanta tolerância,
Pequeno homem atroz,
Não quero ouvir tua voz,
Estou farta de tanta insolência,
Retira-te agora para o reino humano,
Reino falível, corrupto e profano.