Ato público
Somos um povo degenerado,
Espertos,
Até certo ponto.
De tanta indolência,
E conhecimento de casos fatídicos e inverídicos,
Somos,
Por nós mesmos,
Facilmente enganados.
Imagine eu,
Com mestrado em milongas,
Doutorado em embrolhos,
Fluente no dialeto fornicoques,
Fui ludibriado e iludido,
Pelo desejo e sonho,
De uma tal imortalidade.
Um atraente prêmio,
A chance que tanto combati,
Encoberta pelo emaranhado de letras,
E textos,
Que expressam minha revolução.
Fui ludibriado pela inocência de meus poucos leitores.
Inconscientemente,
Sabendo não haver chances,
Me desmonetizei,
Arrisquei,
Afoito pela esperança de glória,
Ascensão,
E reconhecimento de algo que não sou.
Um marginal das letras,
Não letrado,
Excluído pela tão grandiosa banca,
A qual sempre critiquei,
Pela forma catedrática,
Objetiva,
E controladora,
A qual impõe,
E padroniza,
O que é belo.
Me expus,
E fui esquartejado.
Como pude cair nessa arapuca cantada?
Financiei a quem não apoio,
Trocos,
Trocados,
E ainda vivo com a desconfiança,
Que nem lido fui.
Talvez tudo isso,
Seja reflexo de uma rejeição escondida.
Agora quero voltar.
Não mais com textos em forma de desabafo,
E expondo minha fragilidade e pequenez,
Perante a cultos.
Volto a ser o marginal,
Que como muitos,
Deslocado,
Não encaixado ao grande público,
Que através das palavras,
Busca se encontrar.