Cobra em pele de cordeiro

Nasceu serpente,

Mas sua mãe era carneiro...

Sentiu seu medo!

Usou pele de cordeiro,

Por seu amor

Negou seu "eu" verdadeiro.

Veio a irmã,

Como a mãe, doce carneiro!

Nasceu o ciúmes...

Tentou ser sempre o primeiro!

Era o melhor

E jamais o derradeiro!

Conseguiu fama,

Reputação e dinheiro!

A perfeição

Em pessoa, por inteiro!

No casamento,

O perfeito companheiro!

Família linda,

Filhos belos e faceiros!

Sua vida toda

Rodando em trilho certeiro,

Por sua mãe

Que era como o carcereiro

Terno e amoroso

De uma vida em cativeiro,

Cujo prazer

Era o aplauso passageiro

Da genitora

Que se o visse por inteiro

Rejeitá-lo-ia,

Pois seu jeito verdadeiro

A assustava

Como um cruel carniceiro...

Mas o feitiço

Virou contra o feiticeiro...

O inconsciente

Sabendo ser trapaceiro,

O sabotava,

Pois sabia do mal cheiro

De suas mentiras

E quis ser um justiceiro

Da relação:

Colocou em um letreiro

As suas presas,

O olhar interesseiro,

Suas escamas,

O seu lado desordeiro...

Desmascarou!

Sem disfarce de carneiro

Se revelou.

E foi assim pioneiro

da expressão:

Cobra em pele de cordeiro!

A mãe perplexa

Foi ouvir um Conselheiro...

A situação

Queria entender ligeiro,

E evitar

Com o filho um entreveiro.

Ouviu atenta

O motivo verdadeiro:

Só por amor

Sempre fingiu ser cordeiro,

Deixou seu "eu",

Aceitou o cativeiro

Para da mãe

Ter um lugar de parceiro.

Viu a irmã

Como vilão sorrateiro

E pôs-se então

Em posição de guerreiro,

Como se o amor

Fosse conquista em dinheiro,

E toda a luta

Só para estar em primeiro

No coração

Da mãe que nasceu um carneiro,

Pariu serpente,

Teve medo do matreiro,

Mas entendeu,

Mesmo de modo grosseiro,

Que seu amor

Não será interesseiro

Seja quem for

Seu filho, cobra ou cordeiro,

Amará sempre

Pois seu útero é salgueiro!

E o filho cobra,

Já longe do nevoeiro,

Percebe agora

O amor de sua mãe carneiro

Sem restrições,

Sendo amado por inteiro!

Consegue então

Amar seu "eu" verdadeiro,

Ser finalmente

Seu próprio bom companheiro,

Sem precisar

De amor interesseiro e

Seu barco, enfim

Guia como o timoneiro!