Carência
Caí a chuva sorrateira,
Céu fechado de negro,
E eu, cá a sua espera,
O tormento apavora,
Afogo-me entre lençóis,
Quero teus sóis agora,
Essa ilusão me devora,
Resmungo, porque tanta demora!?
Mal vejo a hora...
Para não desesperar a saudade,
Ansiedade é tamanha,
Deixo-me tímida,
Inspirada pelo tom,
Da minha pele castanha,
Que resmunga seu toque,
Banhei entre almíscar,
E tépalas vermelhas,
Dei aquele toque...
Para abrir o apetite das entranhas,
Trovões desorientam o pensar,
As tantas, estás tu a demorar,
Sinto a pressão do silêncio,
E o chamado crescente do cio,
Na fresta desse jardim,
Que espera seus cuidados,
Murmuro no escuro com medos
Enquanto deixo caminhar os dedos,
Que a sentem húmida assim,
Com o cheiro levando-me a imaginação,
Enquanto me contorço sem fim,
Será que tu vens ou não...!?
Meus lábios incham de ansiedade
Saudade é o pior pesadelo,
Nossa! Quanta maldade,
Para o meu sentir faminto,
Nesse instante aflito,
De esperas e incertezas,
Desse constante frêmito
Que condena meu corpo
Que procura sua língua,
Vem, tira-me dessa agonia,
Que só piora com essa chuva
Em que não estás presente,
E eu toda carente,
Perdida nessa vontade fremente
E enlouquecida pelas contrações
Que circundam o botão,
Ardente esticão,
Que me traz convulsão,
Então, vens ou não (...)
(M&M)