Babel
“The nymphs are departed.”
Quando um povo esquece o seu poema,
já não demora a fenecer –
desnutrido da linfa provedora da vida.
Quando se cala a voz da poesia,
fecha-se no horizonte a ponte elevadiça
entre o chão e o palácio aéreo das Musas,
onde habitam os barões assinalados.
Antes do fim, contudo, tal povo padecerá grandes trabalhos,
sendo por todos reputado falto de juízo –
porque andará em círculos, o louco,
como um cão assombrado pelo rabo,
ou um bêbado que estranha a esquina de casa;
...e morderá, raivoso, a própria parentela,
e comerá capim como Nabucodonosor,
enclausurado a ferros na fria imanência.
Tais coisas sucederão porque a Musa,
hospedeira metafisica das almas peregrinas,
a doce vertente das consolações humanas,
partirá...
deixando para trás a terra desolada.
Sim, a magnífica rendeira do invisível
não mais vestirá de encanto a natureza nua.
Então, quando essas coisas acontecerem,
um prodígio assombroso do senhor do mundo
subirá pelos ares, admirável colosso titânico,
projetando sombra aterradora sobre o povo de Deus –
e não obstante, cedo ou tarde,
tal monumento postiço da curiosidade humana cairá –
posto que fora erguido no terreno movediço
da fissão cataclísmica da Palavra.