Babel

“The nymphs are departed.”

Quando um povo esquece o seu poema,

já não demora a fenecer –

desnutrido da linfa provedora da vida.

Quando se cala a voz da poesia,

fecha-se no horizonte a ponte elevadiça

entre o chão e o palácio aéreo das Musas,

onde habitam os barões assinalados.

Antes do fim, contudo, tal povo padecerá grandes trabalhos,

sendo por todos reputado falto de juízo –

porque andará em círculos, o louco,

como um cão assombrado pelo rabo,

ou um bêbado que estranha a esquina de casa;

...e morderá, raivoso, a própria parentela,

e comerá capim como Nabucodonosor,

enclausurado a ferros na fria imanência.

Tais coisas sucederão porque a Musa,

hospedeira metafisica das almas peregrinas,

a doce vertente das consolações humanas,

partirá...

deixando para trás a terra desolada.

Sim, a magnífica rendeira do invisível

não mais vestirá de encanto a natureza nua.

Então, quando essas coisas acontecerem,

um prodígio assombroso do senhor do mundo

subirá pelos ares, admirável colosso titânico,

projetando sombra aterradora sobre o povo de Deus –

e não obstante, cedo ou tarde,

tal monumento postiço da curiosidade humana cairá –

posto que fora erguido no terreno movediço

da fissão cataclísmica da Palavra.

J C B Camerini
Enviado por J C B Camerini em 11/10/2024
Código do texto: T8171217
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