Amargo na boca

Entre uma xícara e outra de café,

queria falar um pouco de mim,

transformar em versos minha história.

Não sei por onde começar.

Entre o que sinto e o que escrevo,

há partes que prefiro esconder,

palavras que não devem ser escritas.

Em meio à amarga autenticidade que busco,

paira o receio dos olhares.

Se me desnudo por completo,

emoções vêm e vão como maré,

ora suaves, ora não — um pulsar.

Entenderiam esse meu mar?

Importa o olhar dos outros

ou o medo de me mostrar?

Se me mostro por inteiro,

sou bricolagem mal acabada,

espelhos côncavos e convexos, revelando a distorção de quem sou.

Conseguirão me distinguir em meio a tantas formas?

Se não me revelo, sou quebra-cabeça incompleto,

identidade fragmentada,

um ser afogado em desilusões, buscando respostas.

Entre uma xícara e outra de café,

diante de incertezas,

deixo a folha em branco.

Na boca, o amargo da vida,

o suave gosto do café.

Melhor o vazio dos versos

que a angústia de escolher palavras

para não sofrer.

Divino Alves de Oliveira
Enviado por Divino Alves de Oliveira em 10/10/2024
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