Amargo na boca
Entre uma xícara e outra de café,
queria falar um pouco de mim,
transformar em versos minha história.
Não sei por onde começar.
Entre o que sinto e o que escrevo,
há partes que prefiro esconder,
palavras que não devem ser escritas.
Em meio à amarga autenticidade que busco,
paira o receio dos olhares.
Se me desnudo por completo,
emoções vêm e vão como maré,
ora suaves, ora não — um pulsar.
Entenderiam esse meu mar?
Importa o olhar dos outros
ou o medo de me mostrar?
Se me mostro por inteiro,
sou bricolagem mal acabada,
espelhos côncavos e convexos, revelando a distorção de quem sou.
Conseguirão me distinguir em meio a tantas formas?
Se não me revelo, sou quebra-cabeça incompleto,
identidade fragmentada,
um ser afogado em desilusões, buscando respostas.
Entre uma xícara e outra de café,
diante de incertezas,
deixo a folha em branco.
Na boca, o amargo da vida,
o suave gosto do café.
Melhor o vazio dos versos
que a angústia de escolher palavras
para não sofrer.