(R)EVOLUÇÃO

Antes, o braço escravo,

A corrente insana,

A máquina humana,

Made in africana,

Plantando cana,

Lavrando cana,

Cortando cana

No calor do dia.

Depois, o boia fria,

Com foice e botina,

Na sua rotina,

Tão tropicana

(e sub-humana),

Plantando cana,

Lavrando cana,

Cortando cana

Para a usina.

Agora é

A máquina em cima

No digital

Fazendo tudo

No canavial:

Plantando cana,

Lavrando cana,

Cortando cana

Com eficiência,

Com Inteligência

Artificial!

- Antonio Costta

ANÁLISE DO POEMA

O poema "(R)EVOLUÇÃO" de Antonio Costta oferece uma análise profunda da evolução do trabalho no cultivo de cana-de-açúcar no Brasil. Nele, Costta retrata a transição do trabalho nos canaviais, desde a escravidão até a automação moderna. A repetição das frases "plantando cana, lavrando cana, cortando cana" enfatiza a constância do trabalho, apesar das mudanças drásticas nas condições e ferramentas.

Vejamos as três fases distintas abordadas no poema:

Escravidão: A primeira estrofe descreve o período da escravidão, onde o trabalho era realizado por africanos escravizados, referidos como "máquina humana". A repetição das ações "plantando cana, lavrando cana, cortando cana" enfatiza a rotina árdua e desumanizante do trabalho sob condições extremas.

Boia-Fria: A segunda estrofe move-se para um período posterior, onde o trabalho é feito pelo "boia fria", um trabalhador rural remunerado precariamente, mas ainda sujeito a condições sub-humanas. A inclusão de termos como "tão tropicana" e "sub-humana" sublinha a continuidade da exploração e as duras condições de trabalho, apesar do "avanço" social.

Automação: A última estrofe aborda a era moderna, onde a tecnologia digital e a inteligência artificial dominam o cenário dos canaviais. A "máquina em cima" simboliza a eficiência e a inteligência artificial no processo de produção, transformando o trabalho humano pesado em uma operação tecnológica avançada.

Portanto, o poema questiona se a verdadeira evolução se dá apenas pela tecnologia ou se precisa também considerar a dignidade e as condições humanas.