GUERRA
No campo de batalha, gritos rasgam o vento,
Céu de chumbo, cinza, suor e tormento.
Corpos caem como folhas no outono sem cor,
Terra encharcada de sangue, não há mais flor.
Tanques rugem como feras sem dono,
Mares de fogo, o horizonte em abandono.
Fumaça cobre o sol, apagando o dia,
Chora a criança, perdida, vazia.
Pólvora dança no ar com o cheiro da morte,
Gritos silenciam o que chamam de sorte.
Os reis jogam dados com vidas aos montes,
O destino é um eco perdido no horizonte.
E lá vai a bomba, rasgando o silêncio,
Explode o caos, o fim sem consenso.
A paz é um mito, um sonho distante,
Enquanto o medo caminha, arrogante.
Rostos sem nome, cinzas ao vento,
Desespero no olhar, esperança em lamento.
Guerra, senhora do tempo, eterna e cruel,
Destrói o homem, mas o chama ao céu.
Explodem os céus num grito de aço,
Terra treme, engole, cospe fracasso.
Metais em choque, fogo sem fim,
A guerra dança num frenesi sem clarim.
Correm soldados, sem rosto, sem alma,
Carregam destinos na mira que os acalma.
Os muros derretem, cidades em chamas,
Corações viram pedra, perderam as tramas.
As bandeiras, rasgadas, flutuam sem cor,
Quem são os heróis? Quem sente pavor?
Lágrimas secam antes de cair,
Mães velam ausências, não há mais porvir.
Cada bala disparada, um sonho apagado,
Na lama da história, o futuro enterrado.
Tambores ecoam, mas já sem sentido,
A guerra é um vórtice que engole o perdido.
Deuses silenciam, humanos avançam,
Na terra de ninguém, os medos dançam.
E quando o ruído enfim se calar,
Restarão fantasmas, a guerra a lembrar.
Restarão sombras nas ruas vazias,
Silhuetas de sonhos em noites frias.
O chão, cicatrizado, já não respira,
E o vento traz ecos da dor que transpira.
O aço retorcido conta histórias esquecidas,
De vidas breves, promessas rompidas.
Pontes queimadas sobre rios de lamento,
Enquanto o silêncio é grito em cada momento.
No horizonte distante, o sol nasce pálido,
Mas ninguém o vê, o futuro é inválido.
As cidades se erguem, mas sempre inclinadas,
Sob o peso das guerras, eternas, caladas.
E quem cantará sobre o fim das batalhas?
Quem juntará as almas nas valas?
A guerra deixa marcas que o tempo não cura,
Uma febre constante, uma vida sem cura.
Mas ainda assim, entre ruínas, há quem resista,
Quem plante uma flor no meio da pista.
Porque, mesmo em meio à destruição,
A vida persiste, renasce do chão.
Mas a flor cresce tímida, cercada de dor,
Entre ferros retorcidos, resquícios de horror.
A terra cansada, marcada de guerra,
Aceita o renascer de algo que ainda espera.
E as mãos calejadas, sujas de pó,
Tentam esculpir o mundo de novo, sós.
Crianças correm entre escombros partidos,
Seus risos desafiam destinos perdidos.
A lua observa, testemunha silenciosa,
A guerra não poupa nem a noite amorosa.
Mas o céu, cansado, já quer respirar,
Mesmo em destroços, há espaço para amar.
Pois em cada pedaço de chão destruído,
Há sempre um coração que insiste, ferido,
Em bater pelo amanhã, em pulsar por um dia,
Onde a paz não seja só uma fantasia.
E assim a roda do tempo, mesmo quebrada,
Gira novamente, e a vida, obstinada,
Começa de novo, debaixo dos céus,
Cobrindo as cicatrizes com véus.
Mas a guerra, latente, nunca dorme de fato,
Ela ronda os sonhos, insidiosa no ato.
Porque a paz é frágil, um fio a romper,
E a história repete o que custa esquecer.
E, mesmo quando a última flor florescer,
E o mundo pensar que venceu o sofrer,
A guerra, sorrateira, espreita ao lado,
Esperando a próxima chance de ser convidada.