Aferição

O poeta vive da dor

acalenta almas frias

degusta o ópio da existência

enxerga suas cinzas

como proeza

descalça a pele

do imaginário

Extrai o gelo das pedras

se movimenta em palavras

entorta o passo sobre a chuva

sente o som da noite

como adeus

reflete no vento que

despista seu olhar

Anda no escuro dos versos

na peleja do instante perdido

rasteja nas fendas

dos sonhos grandes

revela bocas amordaçadas

perde-se em seus segredos

O poeta arde

no fogo da ausência

açoita o caos em ouro

flagra o gesto no afeto

afere seu peito cálido

morre em lágrimas...