N A S C E N T E
Estou gestando, enjoando,
sentido nas dores da gestação
o meu útero inchar,
encher
de plena vida.
É forte, exata a sensação
que sinto atualmente…
Há momentos que me soa
estranho, no entanto…
vejo de longe a vontade
de parir.
Quando será?
Resta perdida essa resposta
esquecida, no anonimato dos tempos.
Quem chegará? Venha quem vier,
que nasça. Gemo, contorço em
cólicas. Não me alimento, tão
pouco sinto sede.
Minha única vontade é de
sustentar com ênfase o novo
rebento que chegará.
Choro. Dou gargalhadas, entendo
o momento difícil e até
compreendo o brindar
no cálice do cá estou…
meu amor. Venha! É chegada
a hora.
Sento, levanto, sinto, respiro
conto, suspiro.
Um… dois… três…
Contrações… é
chegada a hora de descer
e em berros
abre alas
para ele, ela, eles, elas
venha
venham…
e no apagar das luzes,
num piscar de horas…
sou mater… e no repouso
da minha anestesia
adormeço, retorno
a mim mesma, e encontro
você, e aí…
Eis o projeto
da vida, mi vida
este pedacinho
que já é gente,
meu viver…
Ele, ela, eles, elas
são meu…
ser
Somos pessoas.
Fato consumado,
partamos para o
abraço. Agora!
É crescer, meu alvorecer.
E a espécie
se perpetua
naturalmente
essencialmente
normalmente.
És pó, nó do meu
paletó… abotoe-me.
Verdade
essência
de concebimento
pagamento e recebimento.
Estamos quites
somos um.
Editada em 18.05.1993
Reeditada em 28.09.24
Com o pensamento em Benjamin
Eugênio Costa Mimoso.