EX_PATRIAR
Desculpem-me tão nobres cidadãos,
este mérito eu não tenho, porque sou
filho desta terra, mas vivo a deambular,
atormentado pelo medo de um dia
Eu ter que migrar.
Nas esquinas pobres da vida
vivo sonhando
uma realidade que ultrapassa
até mesmo meu pensar.
Porque já não curto mais esse
hino e nem tão pouco essa
bandeira a esvoaçar.
Verdade ser ditosa… nem
membro da pátria, será.
Todos me classificam de ingrato,
sei lá. Talvez de direito seja, mas
é que estou farto de tantas mentiras,
que não me deixo mais me enrolar,
pois, sabemos que a letra é muito
mais velha que o cantar.
Vivo me esmolando e não posso
me dignificar,
pois quem filho da profissional do sexo foi;
da madame jamais será.
Desejo impossível, até de realizar.
Aqui esbarro-me num tempo,
onde conto de fada é ilusão,
porque matar pobre, tornou-se
uma profissão, até mesmo aqueles
que devotos são.
Então, meu camarada, agora vou-me
arredar
e quem deste bolo for, tome
um rumo e vamos lá… brigar
para não se esmorecer, porque
venho mesmo é de lá, o problema
é a estrada para de volta retornar.
Não me peçam de bom
grado, nem para descansar
porque o céu só me cobre
quando chega o madrugar
e eu ainda tenho que correr
daquele que vem me assaltar.
Nada tenho para dar…
Vivo nos semáforos
a incomodar e se pensares
que estou mentindo
passe, por lá.
Mentiroso, trapaceiro
enrolão
tudo isso é adjetivo do
meu povão… não me
assusta isso não, porque
o que tenho direito é
mesmo de ser…
cidadão. Par na lida da sorte
trabalhar
até mesmo penar
o que não pode faltar-me
é o desejo de um dia para
minha pátria retornar e
poder… descansar.
Podes me ajudar?
Leia o cartaz que
carrego no peito
para me expressar.
Não tenhas medo
não vou te maltratar.
Apenas estou lhe
pedindo para me
auscultar. E um pedaço
de papelão para a noite
deitar meu coração com
meu filho a perguntar:
Pai! Quando vamos voltar e
a resposta que eu posso
dar é: boa noite, vá
repousar.
O que fiz para o mundo,
para assim me tratarem.
Estou perdendo minha
língua, meu povo e meus
costumes. Para quê?
Só têm cercas e barreiras
para nós não passarmos.
Mas, um dia isso terá conta
e alguém vai ter que ajustar.
Por enquanto é minha sina
prato
abrigo
sol
lida e
papelão.
No mais é discussão
que não nos leva a solução.
Espero mesmo é disto
todos possam aprender
que migrar ou imigrar
dá tudo no mesmo…
é tudo o mesmo, pois quem
parte sem voltar
é um desesperado
a se flagelar.
O pior é que ninguém
compreende esse nosso
diferenciar, tentado se
habituar, para podermos
cuidar do resto que nos
sobrou para o penitenciar,
em guerras que não criamos
e que jamais lidamos, sem
sorte de pensarmos.
Queremos mesmo é a passagem
de volta para nossa vida retornarmos.
Isso é pedir demais?
Diga você que dorme em seu
esplêndido berço.
Boa noite meu algoz.
Editada em 01.04.1993
Reeditada e reelaborada
em 26.09.24
Eugênio Costa Mimoso.