Quem sou eu?

Nunca fui aquele que chegava primeiro às aulas de química. Nunca fui premiado por grandes desempenhos e, que eu saiba, também nunca fui amado com muito empenho. Mas como poderia, se eu próprio me desdenho? Nunca dei exemplos de virtude, nem tentei desvirtuar os colegas de classe. Nunca entendi direito o que é sintaxe, por mais que o professor, pobre homem, me explicasse. Tentei entrar em uma faculdade, mas falhei. Tentei de tudo, até fora da lei, mas tudo sempre se tornava em nada, e sobre nada eu bem sei. É cômico, trágico e, acima de tudo, vergonhoso. Um indivíduo como eu, de porte garboso, existindo inutilmente, sem amigos ou parentes, nem receio de se vitimizar na sua frente, nobre leitor, que neste momento talvez me tenha com dissabor. Quem sabe por me conhecer nas ruas onde mora, passar por mim, virar o rosto e ir embora. Quem sou eu? O eu lírico que emerge do fedor de álcool etílico na boca dos que o mundo ignora.