J.U.L.G.A.M.E.N.T.O
Meritíssimo… neste momento
quero apresentar-lhe este réu
que não soube criar… apenas
deteve o andar.
Os pés deste indivíduo são
tortos, não me importa o seu
caminhar, pior é a sua
consciência de não saber…
enobrecer… ser..
Meu cliente como V. Exa. bem sabe
têm mãos aleijadas de tanto labutar,
no entanto, o que me impressiona é
vê-lo enfrentar a sua vida de pendengá.
Jamais sentou num banco de escola
para se alfabetizar.
Senhores advogados
nada posso fazer,
este cidadão é sórdido
e merece de fato morrer.
Nasceu nesse sertão, pois
quem do sal prova, vira
pólvora. Não merece viver
é sofrer… Mas se tendes
razão. Vamos condená-lo
pois, condenado sempre
fora a peregrinar.
Pois não meritíssimo…
nós lhe apoiaremos
em qualquer que seja a sentença
só desejamos
ver sentado na cadeira da culpa,
junto com esse desgraçado.
Os outros, nobres
cidadãos de bem
minoria, seus doutores
de gravatinha, que vive
de vaquinha, gordinha
no planalto central.
…
Esse tribunal entra em recesso
neste momento, por tempo
indeterminado… está suspenso
a audiência.
Levantem-se todos, porque eu
preciso passar
e o suposto réu… evadir.
De olho na tela
Essa doeu
roeu
a corda podre
do… de quem?
Senhor sis-te-ma.
Ema?
Rema pelos açoites da vida infeliz.
Editada em 31.03.1993
Reeditada em 25.09.24
Eugênio Costa Mimoso.