LÁGRIMAS DE LAVRADOR

Surgir do pó da terra

e para ele desejo retornar

mas, o que desejo mesmo

é não ver meus filhinhos

imigrar. Ir para longe,

sem rumo… não podendo

retornar.

Nas minhas mão calejadas

porto calos que me dói

na alma e deixou no

meu peito uma solidão

por ter vivido na miséria

por conta deste ou…

daquele vilão, meu patrão.

Alguns me taxam de covarde

poucos dizem que eu sou um

herói… sendo que na maioria

do tempo, não sou nem percebido.

Senão no dia de votar… voltar.

Mas têm uns camaradas meus,

estes sim me reconhecem.

Me chamam de dedinho trinca

viola. É uma prosa. Nós brincamos

de tocar e quando menos notamos,

a lua troca de lugar com o sol.

Agora veja bem, seu moço

como é gostoso reclamar

aclamar na junta da viola.

Sai canto

prosa

verso

chorinho

Até um batuque rola,

lá no rola cabaça.

Não tenho endereço,

nem um teto para morar

pois quem um dia pisou

na poeira desta terra,

jamais quer se separar.

Pois o pouco que restou

só nos ajuda amar… no mar.

Meu senhor. Quem foi filho da

mata, jamais caipora será, até

a minha enxada querida, varre

esse sertão de meu Deus…

a nordeste, sem ao menos

entender se sou realmente

daqui ou de acolá… quem sabe de lá?

O sol não tem o mesmo brilho

também, eu já me esqueci até

de rezar. Valei-me minha virgem

santa, desta peste da agonia.

De viver em minha terra, como

um verme

sem valia.

Ave Maria.

Está dito.

Editada em 29.03.1993

Reeditada em 25.09.24

Eugênio Costa Mimoso.

Eugênio Costa Mimoso
Enviado por Eugênio Costa Mimoso em 26/09/2024
Código do texto: T8160470
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