VALE VIDA… VERDE… NOSSOS… SONHOS

Minha velha viola trincou, deixando o poeta com os olhos rasos d’água, porque seu sentimento, sua inspiração, ficou nas três voltas do desejo da vida.

A parteira suportou os gritos da parideira… gemidos das dores do parto. Alguém deveria nascer… proceder. Generosa era seu nome; sobre. Maria de Jesus. Era tudo o que lhe permitira ser. O sujeito cresceu e danara-se pelo mundo afora, desejando ser gente.

Ficou para trás o ingazeiro

suas raízes

nossa história.

Retornou pleno de paixões

de uma época que nada poderia

ser salvo… a fulana da fome o

deixara na lona sem circo e até

o palhaço… deixara de ser ferreiro,

findando onde nunca houvera picadeiro.

Só desespero alheio

e atônito… memórias de uma minoria

que vendia a crise do miserável por

dois tapinhas nas costas… senhor voto.

O curral pleno de lama marcava a época

que por uma grama de riso

e uma tonelada de traição, Judas tomava

o lugar de Pedro, que jamais se tornaria

uma… pedra.

Varia a mente, valia a morte. E digo mais:

Nada de ressurreição. Esse lazarentos da vida

era uma perdição.

Chuva!!! Só distante, depois que a carniça ardia

e os abutres saciava da miséria alheia.

Tome rezar, novenas em prantos… sacrilégios

missas, terços, ladainhas… era uma praga.

Restava somente anseio

desejos

de ter novamente

aquele vale verde, vivo

e prenhe de sonhos.

A velha parteira continuava

a espreitar noite a dentro

esperando uma chamada

no meio da noite.

Será que tinha outra buchuda?

Ô povo para parir. Tanto é que

deram esse nome para uma rua,

número nove…

E a esperança vinha junto com

fertilidade das Marias que não

queriam… mas, se ele mandou…

Nós temos que aceitar…

andar

esperar

tudo aquilo que fora prometido.

E de repente. Não é que chegou.

Um redemoinho

três relâmpagos trinca céus

dois trovões derruba telha e…

ela…

com uma raiva tão grande que

a apelidaram de enchente.

Mas, depois olha a gente, pisando

na relva,

na grama,

no lamaçal do curral e a bendita

por nome de chuva cruzou…

engravidou

e pariu de novo

o velho toque da viola…

o sustento daquele que

canta a dor, mas também

profetisa o… amor.

Tudo brotando do nada, aquela

coisa miudinha, virando folha,

semente e carne para sustentar

a nossa falta de peixe.

Ah!!! O jequi continua dependurado

à espera do tão desejado nhonha.

Ah meu vale!

Cá te espero.

Ascendi…

Editada em 07.01.1993

Reeditada em 21.09.24

Eugênio Costa Mimoso.

Eugênio Costa Mimoso
Enviado por Eugênio Costa Mimoso em 23/09/2024
Código do texto: T8157760
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