A Flor do Calvário
Lá deitadas na gélida/
Sala de operações/
A dores e sangue/
Toda entubada /
Pela vidraça embaçada/
Senti nos teus olhos/
Confessares o segredo/
Desde menina/
Ao entoares o canto do medo/
Frente a aflição da morte/
Pedias em pálido sorriso:
- Pai não permitas- me/
A solidão/
E se for vestir a mortalha/
Que seja pra morrer/
Prá não viver a má sorte/
Que muitos morimbundos/
Desfrutam sem esperança/
Como nesga de uma ilusão/
Inerte a margem das horas/
Aprisionado na situação/
Só podia esperar/
No frio recanto/
Das procelas das angústias/
Em mares de inúmeras ansiedades/
Me vendo tão só/
Na escuridão da luminosidade/
Cuja liberdade/
Fazia-se cativa de um/
Profundo sofrimento/
Onde as lágrimas debutavam /
Em silêncio/
O corpo decrépito/
Largado a sorte da solidão/
Quando na cabeça/
Fizeram o primeiro corte/
Como a dilascerar minha carne/
Quase desfaleci/
Procurando apoio nas paredes/
De tal sorte/
Que só ouvia vozes vociferar/
Tensão e desespero/
Em pranto de dor/
A alma arguia a Deus/
Não só a necessidade/
Mas a identidade/
De um amor/
Que só a perda/
De um filho nomeia/
Imaginei naquele momento/
Qual o provento/
De quando só se tem a perder/
E o que seria de mim sem você/
Incauto nesse pensamento/
Me veio a luz/
Do teu renascimento/
O teu resistir/
Ascendeu num grito/
O alívio imediato/
Daquela ferida aberta/