a morada
A morada treme no pequeno espaço encoberto,
As pedras estioladas, suas faces, acesas e extremas,
Enquanto, a noite as coloca em sua barriga profunda,
e tudo, inesgotável, acompanha o precipício que
A sombra navega antes do amanhecer, essa
Memória que me cobra o sol da infância nunca
Pra sempre perdida, rasgo a pele do tempo, embora
Seja na minha carne que ele narra suas peripécias,
Mesmo que o presente seja a passagem
Assumo a fala e o dito e já não sei quem sou, salvo
Este atrito, que arde para sempre nessa névoa
Ressequida e dolorida, trafegando imperiosa em
Meu coração, já não sei o nome das coisas porque
As coisas já não são as mesmas coisas, sento em banco
À beira de uma floresta verdíssima e erótica, e me sei
Também a minha própria falta, silenciosamente a vida
É um surto vertiginoso. Apenas viver é o mais difícil.