Antipalavra
É importante observar que são três leituras, ou seja, são três poemas. Duas na vertical e uma terceira na horizontal juntando os poemas. Divirta-se!
Cafajeste
toca o órgão, a música é lenta
ajeita, os tempos fortes e fracos,
olho vivo na percussão
no viés a pausa vibra o instrumento
ela a garota do baile
percebe a evolução é a Flor da Boate Azul
Aos meus pares
pleno dia sol a pino
canto e rio ao meio-dia
não sou eterno sou sombra de rio
imortalidade coisa de grã-fino
é faca cega terno de linho
Bipolar Que cena...!
Ontem, foi um dia lindo
quase me matou. Ri de mim mesmo,
hoje, pegajoso,
manso como cão o calor insuportável
lambe meus pés, afrontou o meu peito
o imenso mar. Albatroz, por favor!
Marilda Conforin Pedro Cardoso
Pecado capital
a distancia da vida e da morte
entre nascer e morrer é um pulo
a mão e a boca uma armadilha
tem nome cobra-cega
fome veneno que mata
Apartado
triste olhar idosa
lágrima despenca das tamancas
esconde a loucura quase cai
inofensiva sorridente
a faca cega ela ilumina
Outono
negra vultosa uma árvore
sombra escura e densa
velha, sem folhas, galhas enfraquecidas
mortas esgarçadas
correm pelas ruas putrefatas
golpeadas
A morte do Rei
na rua do beco ele morreu
chovia era quarta-feira de cinzas
rostos em viés olhavam curiosos e súditos
lacrimosos fingiam chorar
o cotejo sem quê e nem por quê
seguia impávido
Adaga
o silêncio é uma faca amolada
ora fura sem Dó corta como fogo
ora separa por vezes dilacera
sem Fá sem mais nem porque
nem Lá nem aqui nem ali
hei de morrer
Em tempo...
a palavra cuspida
bruta de fel
não me serve sangra
não me diz nada fere
finca é faca amolada
Tristeza
tenho andado cego surdo e mudo
não me vejo nas horas vagas caminho só
não me sinto uma pedra bruta
um louco nas profundezas da terra
Ela
queria ser Flor na galha da laranjeira
sabiá a, passarinha, dorme de insônia
já foi ajudante de pica-pau
morrer em horas vagas
não faz sentido triste sina
Antipalavra
tenho mil palavras tortas
desatualizadas de peso esquálidas
só queria uma a que não fosse tosca
é vero nem burra
seria a mais que perfeita
Vai lendo...
sou o fulano
na verdade o beltrano
um louco o andarilho
diverso eu, e só
Vai lendo...
longe não iria sem dúvida
perto a par e passos
ficaria eu e ela
os sapatos solado vermelho
debaixo da cama que luxo!