MARCAS
O tempo passa veloz,
áspero, escorregadio,
deixando marcas em nós
como a estiagem no rio.
O tempo é cinza do acaso
lançada sobre o agora,
num voo fugaz, tão raso
levemente se evapora.
Deixa em mim a contragosto
sinais que não dizê-los:
rachões no chão do meu rosto
e sopro da cal nos cabelos.
O tempo do qual eu falo
me escapa sutil das mãos,
se escorrendo pelo ralo
pro mar dos instantes vãos.
Antes e depois são duas
margens de um rio sem ponte,
e, assim, suas águas nuas
me fogem como o horizonte.
Tempo voa... Vida urge,
e a gente nem se dá conta,
nem bem a aurora surge
já o arrebol desponta.