MARCAS

O tempo passa veloz,

áspero, escorregadio,

deixando marcas em nós

como a estiagem no rio.

O tempo é cinza do acaso

lançada sobre o agora,

num voo fugaz, tão raso

levemente se evapora.

Deixa em mim a contragosto

sinais que não dizê-los:

rachões no chão do meu rosto

e sopro da cal nos cabelos.

O tempo do qual eu falo

me escapa sutil das mãos,

se escorrendo pelo ralo

pro mar dos instantes vãos.

Antes e depois são duas

margens de um rio sem ponte,

e, assim, suas águas nuas

me fogem como o horizonte.

Tempo voa... Vida urge,

e a gente nem se dá conta,

nem bem a aurora surge

já o arrebol desponta.

Claudeciano Ferreira
Enviado por Claudeciano Ferreira em 21/09/2024
Código do texto: T8156414
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